quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

Malévola


Virei-me de lado e senti a tensão de hirtos lençóis impedindo a minha escapadela, forcei ainda em sonhos e obtive êxito descobrindo a companheira, pudera, ventilador e sono não andam lado a lado dizia já minha sábia avó que passou o hábito a minha mãe, a qual tão bem me fez compreender os males tanto do ventilador quanto do ar condicionado. Agora, acompanhada dessa mulher forte e calorenta, posso se não puxar com eficácia os lençóis sobre o meu corpo enquanto ela, mesmo convicta de seus calores, os quais atribuiria a menopausa não fosse sua pouca idade, ainda assim segura com força entre suas pernas o pedaço de lençol que lhe cobre o ventre, esse ventre duro, anguloso, acostumado as intempéries do mar e ondas, se delicia em brincar comigo nas noites quentes. Digo brincar dada a minha educação, tão sólida em colégio de freiras, mas a palavra que melhor descreve esta delicada situação é tripudiar.

Assim desperto, sentindo o frio oriundo da leve brisa pendendo do teto, acompanhada de um sonoro tic, tic, tic,... anunciando o mal quisto vôo do ventilador sobre nossos corpos. Nem chego bem a despertar colo meu colo no seu para furtar-lhe o calor das entranhas suarentas, o corpo pegajoso, aproximo a orelha direita de sua boca e ouço o respirar forte que acalenta o meu ouvido e ritma o meu sono, conto ovelhas friorentas a pular cercas de braços dobrados aquecendo o peito, procurando o sono que corre solto colado aos seus corpos felpudos e maltrapilhos. Ela dorme, malévola no seu sorriso, espreguiça o braço na direção do meu corpo e me agarra, me prende, finjo que durmo melhor assim com as pernas ao alto e braços por debaixo da cama.

Pela manhã ela me desperta, é dia, hora de acordar, beijo seu ombro, sua boca, me deito sobre seu corpo falante, vivo, altivo e sonâmbulo durante o dia aguardando por mais uma noite ao seu lado.

4 comentários:

J.Carneiro disse...

Muito bom! Mas um ventilador ou um ar condicionado nesse Rio de Janeiro é mulher linda. Só tenho medo de hirtos lençóis.

beijos,
J

Anônimo disse...

sousan

Não canse deitada em berço esplendido nossa intimidade,
Nem dê seu endereço pra estranhos - Chego ainda hoje,
Venha comigo assim como está - Nua.
Jogue todas as roupas fora, as tristes lembranças,
O lençol do solário - O passado - tributo pago pela mora.

Agora,
Diante
Do misterioso futuro - Saltemos pela janela,
Pulemos o muro,
Vamos embora daqui pra sempre.

"Born to be wild",,,

Anônimo disse...

sousan

Não canse deitada em berço esplendido nossa intimidade,
Nem dê seu endereço pra estranhos - Chego ainda hoje,
Venha comigo assim como está - Nua.
Jogue todas as roupas fora, as tristes lembranças,
O lençol do solário - O passado - tributo pago pela mora.

Agora,
Diante
Do misterioso futuro - Saltemos pela janela,
Pulemos o muro,
Vamos embora daqui pra sempre.

"Born to be wild",,,

Anônimo disse...

Esse é o que mais gosto. Nem sei por que

Carolf