terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Fantasmas


Ou é porta, ou é cachoeira, dissimula até onde pode, enquanto agüenta, nada transparece e ela fica assim meio sem saber qual foi a impressão da outra sentada no outro lado da mesa, sentia demasiado e na imprecisão que seriam gestos ou palavras, ela se cala imóvel, palpitando acelerado, a mão nem se move num gesto nervoso. Nasceu assim ela crê, nasceu parede que aos poucos trinca com o avalanche de sentimentos contidos, pensamentos desconexos vomitados por fragilizados neurônios embotados de cerveja, ela sentia mesmo o que achava que estava sentindo, ou ela sentia o que a outra esperava que ela sentisse, quem era a verdadeira, a embriagada ou a sóbria (?), como se existisse um eu, e pra não se machucar elaborava e fantasiava mil histórias, embora no fim juntasse os pedaços atropelados pelo que não vira, e nem tinha coragem ou discernimento para arreglar os fatos, por mais que tentasse cada vez mais afundava, afundava em pensamentos escusos de que ainda a queria, e quanto mais percebia isso mais se esquivava. Caminhou na direção do banheiro e a meio caminhou reviveu fantasmas, do que poderia ter sido, e tropeçou no pé da cadeira, talvez fosse isso, um tropeço o que se passara na sua vida, um inesquecível tropeço, chegou mais perto, abraçou o seu corpo e relembrou o cheiro do perfume, o perfume que acompanha a camiseta ainda na gaveta do quarto, que não pudera lavar pela falta que o cheiro faria.

2 comentários:

Thaís disse...

Me lembrei da música da Marisa Monte.
"Dentro dessa geladeira, dentro da despensa e do fogão
Dentro d gaveta, dentro da garagem e no porão
Em todos os armários, nos vestidos, nos remédios, num botão
Por dentro das paredes, pelos quartos, pelos prédios e no portão"


Preciso confessar...
Tive um sonho um tanto "Inconvencional" essa semana, mas até que eu gostei....
Bjos

cacau segobia disse...

Eu já me senti assim, tão envolvida que já nem sabia se meu pensamento era seu ou meu, se o desejo era tanto e tal, que misturado já com tanta sincronicidade, beirava o não ser... Você consegue captar o âmago... sua fã, Cacau,