domingo, 25 de março de 2007

Telefone


Peguei o telefone e liguei.
Num impulso vivo, depois de ler o número várias vezes e reviver monstros, a ambigüidade do desejo nesse convívio de muitos eus, que se sobrepõem à deriva do meu querer e me impedem de sossegar, um desassossego necessário ao sentido dos dias para que não esmoreçam e desbotem, e os anos passem como num filme lento e insosso. Cutuco feridas à procura de respostas que não encontro, que nem devem ser respondidas, posto que tudo muda e a resposta de agora não é a resposta de sempre, nem a mesma, e os interlocutores cambiam física e moralmente à cada instante, e a graça reside nesse tolo instante em que se crê na resposta, no impacto doído e intenso de uma mesma verdade: eu te amo eu te odeio.

Um comentário:

Thaís disse...

Reviro gavetas, procuro fotos antigas, lembranças amargas...
Adorei
bjos