sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Cafezal



baseado nas peripécias de G.

As saias longas e revoltas, coloridas, o sussurrar dos tecidos nos ouvidos destoa entre os sons, agora distantes, das folhas miúdas das copas das árvores a farfalhar ao vento. São os braços ao alto que encurtam as saias antes cobrindo os joelhos, são os joelhos no meio das pernas e um odor novo misturado ao dos grãos de café verde, recém colhidos, aprisionados pelos dedos, despejados nos cestos e algibeiras. Ela perambula entre os cestos, rodopia com as saias rodadas. O ritmo da colheita se intensifica com o passar das horas, com o sol que cresce redondo no céu. A testa goteja e, por entre as pernas, escorre um fio quente de suor. Ela espalha com o pé desnudo a terra seca, faz castelos de areia no ar, corre circundando saias e pernas, e do alto dos seus oito anos entontece com esse cheiro ainda desconhecido de xoxota que paira no ar.

7 comentários:

Anônimo disse...

eu até senti o vento da colheita na face trazendo os cheiros todos da vida. e como será o estar sob as saias, deve ser uma sensação única...

Cecil disse...

Me lembrou um pouco os poemas de Gabriela Mistral... uma chilena muito atenta às coisas femininas e às sensações, à terra, à maternidade, à impressão de uma materialiadade universal. Muito bacana. Ela foi professora primária rural, muitos poemas tm esse negócio de pão, terra, pele, corpo, mas têm uma espiritualidade também, e sensualidade. de repente literatura é isso, né? Um diálogo permanenete entre as pessoas sobre coisas universais.
Valeu, Naomi.

Anônimo disse...

de repente literatura é mesmo um diálogo sobre o cotidiano e as coisas universais, e é também como acordar e abrir os olhos para uma nova paisagem.
:)

Thaís disse...

"de repente literatura é mesmo um diálogo sobre o cotidiano e as coisas universais, e é também como acordar e abrir os olhos para uma nova paisagem." (2)

Vou falar o quê depois disso?

Anônimo disse...

Deliciosamente forte e e doce.

Anônimo disse...

muito movimento, leve e amplo. e cheiros, sensações, cores. gosto desta escrita que tempera intensidades e subtilezas.

Anônimo disse...

entro rápido aqui, antes que a chuva chegue. ainda tem cheiro de cafezal, tem cheiro, sim.