segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Moça na janela



Era um abafamento de dar nó no corpo, as entranhas todas ressecadas, ela bebia um copo de água atrás do outro numa tentativa inútil de sentir suas células irrigadas. A jarra na mesa ao lado do sofá, o copo na mão direita e a televisão ligada no horário do telejornal da noite. Da janela vinha o bafo quente da boca escancarada da noite. A balela de sempre na televisão, crise aqui e acolá, violência acolá e aqui. Estendeu o pé sobre a almofada suja, apertou os olhos com força esperando que o fantasma da imagem sumisse, subiu e desceu com a mão o bombril pela antena na tentativa de melhorar o sinal. Desistiu. Foi até a janela e com a mão delicada tirou a cortina de chita da frente do seu campo de visão para ver o esgoto que corria como um riacho rua abaixo. A lua se escondia por detrás de nuvens carregadas, a tempestade se armando. No final da rua três crianças brincavam com uma bola já molhada do esgoto, um cachorro mal tratado corria atrás da bola no que parecia ser a sua primeira alegria do dia.

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