Era um abafamento de dar nó no corpo, as entranhas todas ressecadas, ela bebia um copo de água atrás do outro numa tentativa inútil de sentir suas células irrigadas. A jarra na mesa ao lado do sofá, o copo na mão direita e a televisão ligada no horário do telejornal da noite. Da janela vinha o bafo quente da boca escancarada da noite. A balela de sempre na televisão, crise aqui e acolá, violência acolá e aqui. Estendeu o pé sobre a almofada suja, apertou os olhos com força esperando que o fantasma da imagem sumisse, subiu e desceu com a mão o bombril pela antena na tentativa de melhorar o sinal. Desistiu. Foi até a janela e com a mão delicada tirou a cortina de chita da frente do seu campo de visão para ver o esgoto que corria como um riacho rua abaixo. A lua se escondia por detrás de nuvens carregadas, a tempestade se armando. No final da rua três crianças brincavam com uma bola já molhada do esgoto, um cachorro mal tratado corria atrás da bola no que parecia ser a sua primeira alegria do dia.
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