Em cada curva, olhando pela janela o asfalto, crescia um frio na barriga. Por pouco, muito pouco, ele não tombava, notícias de tombamento existiam dado os pilotos ao volante. Piloto em cima de ônibus velho e mal tratado, a vingança dele era com o pé abrupto no freio, o pé pesado no acelerador e a luta incesante por espaço com os carros pequenos. A cada movimento repentino, um rearranjo no interior do ônibus, um tal de cai para cá e para lá nada alegre depois de um longo dia de trabalho. A vista, nesse privilegiado lugar chamado janela, é da favela. Um tanto de reboco caindo, orifício sem janela, buraco de porta sem porta. Tem um brilho sobre um muro comprido que logo se desvenda em cacos de vidro refletidos pelos faróis dos carros. Completando a paisagem essa gente com cara de triste. Quando parece que a favela se foi, segue tudo igual, uma zona mais empobrecida que a outra, é tanto de coisa caída que, com a atenção no trânsito e a mão no volante, nunca se repara. Um livro é lido aos sobressaltos, que nessa cidade esquecida por políticos corruptos, nem o asfalto é liso. Esse é o caminho de casa: o inferno de uns e a realidade de tantos.
2 comentários:
roubam tb a dignidade, filas e filas de mortos vivos.
estou nessa realidade também!
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