domingo, 5 de fevereiro de 2006

Banha-me


Ela foi entrando de mansinho, pé ante pé na sua vida, fez-se bicho quieto e paciente, de dia encantamento, à noite lhe lambia as feridas. Uma noite soltou seus longos cabelos pra embaralhar num penteado novo ao segundo vento, audácias se permitia, às vezes no canto da porta deixava um botão de cravo, cheiroso. E ia embora fazer seus afazeres. Não tardava a voltar com as mãos cheias de encantos. Trazia um ramo verde na boca recém colhido do campo, chupava a seiva fresca mirando-a desde a porta de entrada, aguardava o convite, se em casa ela não estivesse estirava-se no segundo degrau a contemplar o dia, aguardava serena com seu pote de mel nas mãos.

Banhava-lhe à luz da lua numa bacia cintilante, alumínio polido com esmero, secava-lhe o corpo e as lágrimas em silêncio, vestia-lhe de branco angelical. Não fazia perguntas e não dava respostas, compreendiam-se no sossego da noite.

Partiu o tempo das perdas, nas muitas águas escorridas por entre os dedos, levado a cântaros na direção do mar, levou consigo também a água dos olhos, copiosa. Ficava a sombra da árvore a dar sempre sombra nos dias quentes, a companhia silente, generosa.

Os dias desanuviaram-se com a chegada da primavera. As margaridas se abriram nos campos agora amarelos, o sol se punha lento na outra margem do rio borbulhando a água fervente, ela cerrava os olhos se escondendo da claridade e espiando o fim do dia. Entrava em casa descalça e aguardava o seu eterno retorno ao pé da escada, lívida. E quando ela chegava, carícias já não pedia, roubava-as.

2 comentários:

Anônimo disse...

a volta da fascinação

Seria uma fábula a origem deste amor
Ou fosse o enredo a sua própria história,
A líric'amante sombrio y só
Esperaria, esperaria...

Desde quando o sol queimava sua paixão,
Até ali, molhado & solitária,
Não esqueceria, não...
Ela a sublime princesa & dançarina,

Ela um pobre molambo no parque,
Lembrava y sempre lembraria,
Lembraria...

De sua –Íris,
Daquelas noites &madrugadas insones, de um amor impossível,
Mas, ela voltaria, com certeza voltaria...

So’um fio dourado - minha doce pequena,
Apenas um laquê no penteado deste plebeu disfarçada,
Um bandaid trocado na ferida do amor maculado.

Um beijo roubado - O abraço apertado prometido,
Jamais dado, uma triste saudade.
Esperarei sempre por você – Fascinada...

Anônimo disse...

Gostei! um pouco hermético, mas doce.