segunda-feira, 22 de maio de 2006

Caro Tigre,

Andando outro dia pela floresta de cimento, nem de longe acolhedora como a sua que tão boas lembranças me traz, deparei-me diante de uma criatura, que por ora assim prefiro denominar e que, mais tarde, bem irás compreender o porquê da minha falta de zelo. Escrevo a ti, pois és desprovido de julgamentos no que diz respeito ao mundo dos homens, e desse modo melhor poderás compreender a minha aflição e quiçá indicar-me um caminho.
Encantei-me de pronto pelo formato roliço da criatura, talvez cansada das anoréxicas beldades televisivas e, com um quê de rebeldia barata, vasculhei minha bolsa à procura de uns trocados que o libertassem do meio fio. Mal chegando em casa, arrumei-lhe um lar aconchegante perto da planta da felicidade, diga-me onde mais alguém poderia querer viver? Pois saiba que quase mata seu gentil hospedeiro de tanto chafurdar na lama. Tirei-o rapidamente, lavei-lhe as patas, e o pus onde a ninguém viesse perturbar, na estante, preso entre “A Revolução dos Bichos” e o “O Príncipe” como contraponto.
Há de se dar de comer à criatura a toda hora, que a fartas bocadas satisfaz sua fome e não enche sua pança. Pensei levar meses até que o pudesse satisfazer por completo, diria mesmo que está perfeitamente adaptado à vida moderna com esse eterno ar de insatisfação pendendo de seu nariz roliço. As patas, estas sofreram de alguma doença quando criança dada sua pequenez ou então o ventre, tanto cresceu, que as encurtou.
Agora, passados meses, faz-se o dilema: defensora não sou dessa vil criatura, mas treme minha consciência com o que há de vir. Necessito com a maior urgência de tudo o que sob seus cuidados se encontra e para obtê-lo deveria de pronto romper-lhe o ventre, o que em nada me apraz, acaso tivesse essas vontades teria me dedicado a veterinária, onde crê-se, apesar de inúmeras controvérsias, eles sabem o que fazem. Ficamos assim em casa, olhos nos olhos, sem nada a dizer. Faz já uma semana que minha mente se digladia entre o querer e os meios para tanto.
Peço, encarecidamente, que não tardes há vir com teus sempre nobres conselhos e lembre-se que a tua natureza nessa hora muito me convém.
Da igualmente nobre amiga, a domadora de porcos, ainda que feitos de porcelana,
Marcília.

2 comentários:

Anônimo disse...

E ele? Continua entre o Principe e os Bichos??

Bem legal- já achava-, mas agora que já sei do que se trata...rsrsrs

Beijos!

Anônimo disse...

Quem será este Tigre...?
Sinme