sexta-feira, 13 de abril de 2007

Descobrindo




Continuação do texto "As consequências de uma barba ruiva"(outubro/2006)


Pediu um café sentada a mesa perto da janela e tirou da bolsa a revista que comprara no livreiro da esquina, eram dois pequenos prazeres pela manhã, ainda com as compras da feira na sacola encostadas ao pé da cadeira ela sorria miúdo por dentro, um calafrio por se permitir folhear as páginas coloridas da revista com muitas moças em seus trajes ajustados, enquanto ela sentava sobre a mesma saia de anos, mas agora não tomava o café de casa, era um café feito por outras mãos, com outro cheiro e sabor, o ar do recinto exilava uma mistura de perfume de homens e mulheres bem cuidados no intervalo do trabalho falando e rindo alto, ela também por vezes fingia olhar as gravuras para desfrutar desse convívio roubado, dessa felicidade que parecia fazer parte do mundo em outros rostos, acompanhou com o olhar triste a passagem do homem alto de barba ruiva pelo lado de fora da janela, gostaria de tomar um café em sua companhia, de falar sobre as coisas todas que não entendia, que só um estranho entenderia. Deixou-se tomar por uma languidão assim sentada com a xícara de café na mão, as falas difusas a perpassarem o pensamento e o homem lento do outro lado da janela, vestido com o ruivo do filho e do marido, pagou apressada o café com medo de si, com medo dos outros, caminhou até em casa cabisbaixa conectada com o mundo como nunca estivera antes, abriu a porta dos fundos e foi direto para o quarto, largou as sacolas pelo chão e deitou-se na cama, corpo mole, pernas abertas, sem pressa que o marido voltasse.

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