sexta-feira, 25 de maio de 2007

Lilá


Abre a janela no segundo andar da casa e surpreende-se ao vê-la deitada embaixo do pequizeiro a essa hora da manhã, esfrega os olhos para certificar-se, dessa distância a visão fica embaçada sem os óculos, mas a silhueta que tanto conhece não deixa dúvidas.
O orvalho da noite ainda não secou, a grama está verdejante com a luz do sol nascente refletindo nas gotículas de água sobre as folhas. Uma leve brisa balança as folhas das árvores anunciando a chegada do outono, corre ao banheiro para pegar óculos e roupão, largados às pressas sobre a banheira na noite anterior. De volta a sacada aproveita para admirar estes raros momentos em que ela relaxa esquecendo da vida. Na maioria das vezes tem energia de sobra e passa os dias a andar para cima e para baixo no gramado, cheirando uma flor e carregando objetos de um lado para o outro. É dotada de uma energia vertiginosa.
Ontem a tarde fizera muitas fotos, lembrando que partiria de volta a sua cidade ainda hoje. Fotos dela no gramado, correndo, pulando ou espreguiçando, closes do rosto em caretas. A saudade se antecipa à viagem, do seu humor contagiante e travesso.
Abre a porta da cozinha que dá para a varanda e assovia baixinho, um turbilhão negro saltitante emerge debaixo do pequizeiro, corre na sua direção balançando os quadris, as longas orelhas negras caídas ao longo da face balançam acompanhando o rabo em movimento aleatório. Chega perto dela e não hesita um segundo em colocar as patas enlameadas no pijama, quase derruba a chícara de café entre seus dedos. A boca se abre em sorrisos e o corpo todo sacoleja trocando carícias desesperadas. É, sem sombra de dúvida, o prenúncio de uma grande amizade.

Um comentário:

Thaís disse...

QUe delícia ...
Me deu vontade de me jogar no gramado verde, ainda molhado. Me estirar no sol...
Bjos