quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Noite de setembro

serenade for the doll


Foi em setembro, ela apareceu a primeira vez naquela primavera, havia desaparecido por longos oito meses, bateu na porta como sempre havia batido e entrou dando boa noite como se tivéssemos nos visto na semana passada. Ela entra e diz que hoje em dia ninguém é real, ninguém é de carne e osso, todos indo sempre, líquidos escorrendo pelas mãos, eu digo que ainda estou aqui, ela diz que não importa, que somos minoria, eu digo que vale a pena, alguma coisa vale a pena se a alma não é a que pena e sorrio buscando dentro dela um riso. Ela hoje está vestida de noite, eu de paciente ironia, abrimos uma garrafa de vinho tinto, servimos em glamourosas taças e sentamos de frente para a janela com os pés sobre o parapeito, lá fora também é noite. Ela diz para eu largar os livros, que poetas e tontos se compõem de palavras, eu digo que ser tonta é uma dádiva. Ela enrola o echarpe no pescoço protegendo-o do frio do vento, ficamos ali a ver navios flanando na noite, adormeço com a cabeça recostada no seu ombro e gentilmente ela me conduz a cama. Dormimos abraçadas até de manhã.


6 comentários:

Anônimo disse...

q delicadeza única, minha tão tão querida. que texto lindo! aquelas taças, depois do vinho, estão cheias de amor. deixei o cachecol enrolado nelas (antes da chuva).

o fio do meu desejo deu um laço no seu.

Henrique disse...

Ela hoje está vestida de noite, eu de paciente ironia. Que foda, parece o início de um grande livro da história da filosofia. Parece o mundo de sofia. rs

recebi o seu comentário no meu e-mail enquanto estava com o seu blog aberto, rs

Beijos

Karol disse...

tão delicado, tão suave...
beijos

Morgana disse...

Fui entrando sem licença, me perdi nos textos, apreciei a musica...
Vou voltar com a sua permissão.

Parabéns pelos seus textos.

Um beijo

carol disse...

Leitura ácida e doce... Deliciosa! um beijo

Cecil disse...

Delicadezas rosa-chá nesse mundo de meu deus, como fala a minha mãe...
Lembrou-me um poema belíssimo de Louis Aragon, gosto muito... "Un air d'octobre"... um trecho aqui:

Bel automne aux mains de velours

"C’est la chanson jamais chantée
C’est la chanson de notre amour
C’est la chanson des roses-thé
Dont le cœur est couleur du jour"


bjs