Uma tênue nuvem de fumaça escapulia pela porta entreaberta. A arquiteta fuma a intervalos contínuos. A languidez postada sobre a cama numa hora avançada da noite. Uma sombra na parede anuncia a chegada, um minuto de silêncio é o sinal para a baixar a guarda. Nos fitamos. Do lado de fora da janela o barulho da chuva constante de inverno enerva os dias, os humores inconstantes. Calar, como quem cede, ou como o triunfo orgulhoso. Não há heróis nessa guerra, nunca há heróis em guerras, apenas um desvio de conceitos. Somos aquilo que podemos ser. As palavras reproduzindo meias verdades. Sento na cadeira olhando pingos espessos de chuva escorrendo pelo vidro, ela acende mais um cigarro ganhando tempo. Qualquer movimento brusco foi-se a trégua, a última centelha queimando, ardendo. Deito ao seu lado na cama, devagarzinho, me aninhando entre cobertas. Uma mão urgente pega na gola da minha camisa, quase rasga, me puxa para perto, bem perto, quase dentro, e assim ficamos por longos minutos.
4 comentários:
ô Naomi, gosto tanto de ler seus escritos. abraço
Que lindo! Sinto falta dessa mão me puxando. Abraços!
Tem sabores logo ali, na cozinha branca, com geladeira idem. E temperos, étilicos, cheiros e cores.
Que saudade daqui!
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