sábado, 18 de abril de 2009

Manhãs de outono




Acordei antiga, coisa do vento de outono entrando pela fresta da janela, me traz ares de infância, embora o frio geográfico de agora esteja minimizado. Antes, saía da cama feita com três cobertores e vestia, sobre o pijama, a calça jeans, o pulôver tricotado a mão e um casaco mais sobre tudo isso. O frio de dentro concorria com o frio de fora, as paredes de alvenaria guardavam o frio por dias, a amplidão do pé direito deixava circular o minuano por qualquer fresta. Descia pela manhã as escadas de degraus altos e corrimãos de madeira até a cozinha, porta fechada. Lá dentro o calor de um fogão a lenha desde cedo fumegando, passara a muito a hora do primeiro chimarrão. Às vezes, escondido, vinha um gato dormir aconchegado embaixo do fogão de puro ferro. Na chapa quente do fogão aquecia uma torrada feita com manteiga, queijo e presunto, apertada com força por uma tampa de panela por alguns minutos, saía crocante, cheirosa. Ensaiava com a torrada uma xícara de café em frente ao fogo, sentada numa cadeira e com os pés dispostos em frente a tampa aberta do forno. Depois, finalizando as manhãs de outono, vinham os pinhões assados sobre a chapa acompanhados do chimarrão pré-almoço.

4 comentários:

antes da chuva disse...

tem vida, pele e entranhas...

Karol disse...

Chimarrão antes do café e antes do almoço. Na parte da tarde outro para as conversas intermináveis. E eis que na noite a gente se aquece de outro jeito.
Hoje queimei a língua com mate. Ui.

Thaís disse...

Frio tem muito mais cheiro, cor, textura. Frio, frio. Teu texto é toda fome.

Wally Jacobsen disse...

Bonito texto, fiquei com vontade de viajar.